quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Brunch na Laje

A tribo dos cariocas é muito animada. Lá as reuniões íntimas sempre se transformam em um acontecimento social com repercursão nacional e dependendo de alguns detalhes, que só pertencem a eles, internacional. Sinalizam tendências, lançam modas.
Sempre dão o que falar, como diriam os mais antigos.
Para quem não sabe o que é a "Laje", eu não vou responder. São aquelas coisas que você sabe ou não saberá nunca. Posso somente dar uma dica: É um certo estado de espírito.
Poderia pertencer a todos. Felizmente ou infelizmente pertence àquela tribo e a outros espíritos soltos pelo mundo. Grupos de intelectuais encontram-se semanalmente para discutir o assunto. Há muita divergência.
 Brunch eu também não vou explicar. O Deus Google está aí para responder às suas preces.
Tudo esclarecido, vamos aos fatos:

O seu sonho desde o nascimento era morar na zona sul. Sua mãe conta que a primeira palavra pronunciada foi Dias Ferreira. Sempre foi precoce.
Por circunstâncias da vida morava na Tijuca. A Tijuca é um bairro "meio". Meio tudo.Não está nem no subúrbio nem na zona sul. Fica na  fronteira É um bairro confuso e isto traumatiza irremediavelmente seus moradores. Eles ficam vagando entre dois mundos. Alguns enlouquecem definitivamente.
Nossa querida tijucana trabalhou e juntou dinheiro para finalmente realizar o seu sonho, e definitivamente ser feliz.  A felicidade está sempre lá, sempre no outro, depois do túnel,sempre nas areias douradas dos eleitos. Há controvérsias! Ninguém ainda sabe direito que p**%5&¨**rra é esta!
Finalmente chegou o grande dia. Ela chegava a tremer de emoção. Com lágrimas nos olhos, finalmente acenou com o lenço branco para as pessoas que ainda trafegavam pela Saens Peña à procura de uma saída. Alguns carregavam fotos de Ipanema. Outras uma sacolinha com areia da praia da Barra.
Ela manteve o sorriso triunfante e sequer deu uma última olhada. Não havia tempo para o passado.
Chegou como saiu. Sorridente e com pequenas gotas de lágrimas no olhar. Agora, de emoção.
Como o dinheiro arrecadado, alugou com possibilidade de compra futura, um duplex com cobertura, que ela ainda insistia em chamar de terraço ou laje.
Ficava próximo da Dias, onde à tardinha, com seu vestido florido e esvoaçante, saíria para as compras e depois comer biscoitinhos amanteigados com chá de equinácea, que era o hit da estação. Teria que  lembrar de cruzar as pernas delicadamente, como a tribo sulista. Tinha que adquirir novos hábitos. Tinha que tirar a Tijuca de dentro, a fórceps se preciso.
A brisa vinda do mar entrava em sua sala e ela suspirava, suspiro que só poucos suspiram.
Tudo perfeito. Finalmente!!
Coincidiu que no dia de sua mudança, era também seu aniversário. Resolveu dar uma festa, chamando os seus amigos e parentes da distante Tijuca. Seria uma despedida.
Daqui para frente, novos amigos, novos amores, nova vida! Animada com a ideia, resolveu fazer um brunch. Não sabia direito o que aquilo significava. A Caras não podia estar errada. Montou um menu chic, saboroso e simples. Ainda não estava pronta para a gastronomia molecular.
Pensou ir na Colombo, mas era próximo demais, preferiu não correr riscos. Optou por um bolo de abacaxi com coco. Simples e imortal.
Como o brunch estava marcado para às onze horas da manhã, começaria com uma mesa de pães finos da melhor padaria. Padrão Paris. Queijos, frutas, frios embutidos, geléias, água de coco e sucos naturais com frutas da época. Ela adora frutas da época, seja ela qual for.
Depois mini barquetes de frango ao curry, feitas com aquelas massinhas já prontas. Por cima, o sexagenário fio de ovos.
Um pouco mais tarde, serviria os empadões de frango e camarão, que sua empregada Ademilda faz divinamente. Pessoa simples, e ainda desnorteada com tanta novidade ela parecia andar meia dopada. Seu último trabalho era vender dobradinha na Central do Brasil.  Os argumentos da tijucana  para tirá-la de lá foram fortes, mas ela andava se perguntando o que estava fazendo ali.
Para beber, clericot. Feito só no rosé.
Sem ter um vasilhame próprio, improvisou e fez uma poncheira com o lustre da sala de estar. Tinha certeza que seria copiada no subúrbio. Quem mais apropriado para ressuscitar o clericot? E ainda mais no rosé?
Como conhecia o perfil dos convidados, montou um menu emergêncial, para o caso do evento se estender um pouquinho. Quando escurecesse, acenderia a churrasqueira, colocaria linguicinhas, queijo coalho, cebolinhas e batatinhas. Seria o must!
Depois de um dia exaustivo na cozinha, estava tudo pronto. Achou por bem receber no terraço, queria esnobar com a brisa marinha e a vista dos edifícios em frente. Ia abalar.
Mesa  lindamente decorada, quase não se via a comida. Decoração ambiente com grandes flores de papel. O curso de artesanato foi de grande valia neste momento. Som na altura e qualidade certa. Pensou que talvez mais tarde, poderia colocar um funk leve. Sem saber que isto não existia. Achou tudo lindo e ria antecedendo o prazer. Antes do banho e da escova progressiva, lembrou da maçã do amor. Era viciada. Não perdia uma quermesse tijucana, ia em todas, encostava na barraquinha das maçãs, e só se dava por satisfeita depois de engolir uma quantidade que para alguns seria motivo de internamento. As fofoqueiras de plantão comentavam que era falta de marido. Ela não estava nem aí. Ia embora levando meia dúzia. Gostava tanto que aprendeu a fazer, e depois de muita persuasão, me repassou a receita. Transcrevo como recebi.
É fácil, precisando somente de uma boa dose de amor. Quem não tem não faz.
Maçã do Amor para quem tem.
Ingredientes:
  • 6 maçãs bem vermelhinhas;
  • 2 1/2xícaras de açúcar mais grossinha;
  • 5 colheres de sopa bem geladinha, acabada de sair da geladeira;
  • 1 colher de sobremesa de corante alimentício vermelho, de um vermelho bem vermelhinho;
  • 1 colher de sobremesa de suco de limão, cuidado com as mãozinhas na hora de espremer.
Modo de Preparo:
  1. Lave  e seque carinhosamente as maçãs.
  2. Prepare um tabuleiro limpo e liso para receber as maçãs depois de carameladas, seque bem o tabuleiro e polvilhe-o com açúcar fininha. 
  3. Espete delicadamente com um palito de churrasquinho  cada uma das maçãs, tome cuidado para não atravessá-las. Você consegue!
  4. Em uma panela junte o açúcar, o corante a água gelada e o suco de limão e leve ao fogo mexendo sempre. Cuidado para não se queimar!
  5. Meu amorzinho, quando  a mistura se tornar uma calda espessa e brilhante, você terá de testar o ponto. Tenha muito cuidado, viu?
  6. Para testar o ponto, use um palito para pegar um pouco da calda e jogue-o em um copo de água, se a calda endurecer está no ponto, retire do fogo. Aiii!Jesus! Se você queimar, vai doer!
  7. Segurando pelos palitos passe as maçãs na calda até que elas fiquem bem cobertas, você pode ir virando a panela junto para ajudar, coloque as maças no tabuleiro que você preparou antes e deixe secar.
  8. Embrulhe-as em papel celofane a amarre uma fitinha de cetim colorida. Vai ficar uma graçinha e seu amorzinho vai adorar! Beijinhos no coração!
Infelizmente, a sorte não estava do lado dela.
Os convidados, na ânsia de tirar uma casquinha do mundo idealizado, começaram a chegar às dez horas. Falando alto e já reclamando da música.
Alguém gritou: "Coloca um funk aí, p**%5&**orra!"
Já visivelmente nervosa, nossa anfitriã, atendeu ao pedido. O clericot rolava solto e já dava sinais de que não saciaria a sede desértica dos convidados. Correu à cozinha para fazer mais. Tinha acabado o lícor. Sem saída, colocou açucar numa cachaça, juntou o espumante e o restante das frutas. Ninguém ia perceber!
Realmente, na bebedeira em que estavam, ainda acharam melhor do que o anterior.
Acabou a comida da mesa lindamente decorada com flores de papel. O empadão da Ademilda nem chegou a ser servido, invadiram a cozinha e comeram todos. As maçãs jogadas no chão e pisoteadas. Ninguém comeu. Até para eles, era demais!
Nossa tijucana, visivelmente abatida, correu para a churrasqueira. Ademilda, solícita, tentava ajudar em vão. Nada mais poderia ser feito para evitar o desastre. O charmoso churrasquinho acabou em cinco minutos.
Perto da meia noite, a vizinha toca a campanhia. Ademilda abre a porta e vê a Valeska Popozuda, perguntando por que não havia sido convidada. Ela corre para avisar à patroa, que está paralisada numa poltrona enquanto um convidado rebola na sua frente. Os olhos estão vidrados. Não se sabe de desejo ou de loucura. Esta altura do campeonato tanto faz. Ser vizinha da Popozuda é demais para os seus nervos. Enlouquecida saí correndo pelas escadas, gritando e rindo alto.
Para desespero dos familiares, nunca mais foi encontrada. Algumas pessoas dizem que ela foi avistada andando sem rumo entre Ipanema e o Leblon, com a roupa rasgada e cantando um funk, que somente quem sabe desta história entende. A letra diz assim:

Ôôô brunch na laje, olha o brunch na laje,
Pô,pô,pô,Popozão
Não vai não, não vai não!
É o bonde da Tijuca
Clericot na mão!
Clericot na mão!

Desconfio que será o sucesso do verão que se aproxima!

Abraços,

Dino Rosa - Cozinheiro     

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Raios!!!

Fico imaginando a origem das coisas.
Qual terá sido a sensação do primeiro ser humano a experimentar o chocolate? Será que teve música dramática ao fundo, como nos filmes? Se não teve, deveria ter tido.
O que levou o cara (ou a mulher) a achar que torrando e socando aqueles grãos poderia resultar no que temos hoje?
E a primeira pessoa a provar um churrasco? Com certeza teve um orgasmo. E olha que deve ter sido ainda sem sal. Com sal, orgasmo múltiplo.
Eu tenho a seguinte teoria:
Numa caverna perto do bosque e de um riacho ainda despoluído, no período cretáceo, vivia um casal pré-histórico e jovem. Certo dia, depois de discutir a relação e se deveriam mesmo dar de presente para a mãe dela um filhote de tiranossaurorex, resolveram esfriar a cabeça com um passeio no campo.  A conversa estava começando a ficar tranquila entre eles, quase pintando um beijo, quando, de repente, uma tempestade terrível se formou no céu negro.
Ventos castigavam as matas, dinossauros atropelando os menos favorecidos. Pterodáctilos procurando teto para pousar. Quase São Paulo! Caos!
De braços dados e correndo como loucos, os dois jovens procuravam um abrigo. Todas as cavernas estavam com lotação esgotada. Na maternidade da história, nasciam os sem teto!
 O límpido e tranquilo riacho se transformou em um gigante amazônico. Os mastodontes mamutes  enlouquecidos teimavam em atravessar, cavando ainda mais o leito do outrora riacho. Nasce assim o rio Amazonas!
Sem outra solução à vista, correm para uma esplanada onde duas árvores, graciosas e cheia de frutos amarelos, insistem em não envergar com a força do vento. Rapidamente procuram a mais próxima para se abrigarem, infelizmente a que escolheram está ocupada por uma gorda e saudável vaquinha malhadinha. Vendo seu espaço sendo invadido, a vaquinha, que não conhece os bons modos e nem o seu lugar na cadeia evolutiva, ruge como um tigre dentes de sabre.
 As coisas estavam ainda muito confusas. Ninguém ainda sabia direito quem era quem. Macaco ou homem? Vaquinha ou tigre dentes de  sabre? Vale tudo ou tem censura?
O casal, tremendo de frio e de medo da vaquinha, corre para a próxima árvore.
De repente, um clarão e uma trovoada fenomenal anunciam o raio que está por vir. E vem.
Atinge em cheio a árvore, que até então abrigava a vaquinha confusa. Mesmo com a chuva, a árvore pega fogo. De longe, dava para ver que a vaquinha sofria.
Dá duas rodopiadas em torno de si mesma e cai dura.
O casal, sinalizando o princípio da bondade humana, que depois desaguaria em Madre Tereza de Calcutá, corre para acudir. Já não resta mais nada a fazer. O corpo chega a soltar uma fumacinha. Consequência do maldito e inevitável raio.
Esta mesma fumacinha, que anuncia a passagem desta pra melhor, entra nas narinas de nossos heróis e produz uma explosão de sensações, nunca antes sentida por nenhum ser humano ou macaco.
Instintivamente, como se soubessem disso desde sempre, começam a tirar nacos e mais nacos da querida vaquinha. Principalmente da parte traseira. Brigam pela parte mais macia. Na confusão, ele a chama de piranha. Ela pega um pedaço da vaquinha e arremessa em sua direção, atingindo-o em cheio no rosto.  Com o sabor da carne na boca e já começando a  ficar satisfeito, diz: "Amada! Eu não disse piranha e sim picanha!"
Nasce assim a dissimulação masculina! E simultâneamente, a picanha maturada!
Comem com  as mãos e sem nenhuma etiqueta, que tem o seu príncípio um pouco mais tarde com Leonardo da Vinci, que, não aguentando mais aquela lambança toda, inventou o guardanapo.
Na mesma época, no restaurante francês (sempre eles!) La Tour D'Argent, os donos enojados com a cena daquele povo todo chupando os dedos, inclusive o Leonardo, inventam o garfo.
Desde então etiquetamos tudo, inclusive pessoas.
Satisfeitos e já com princípio de congestão estomacal, eles decidem que está na hora de sair da chuva. Se ficassem um pouco mais, teriam inventado de uma só vez também a sopa de carne.
Começam a caminhar, correr não aguentam, quando um outro raio gigantesco atinge a outra árvore. Desesperados ficam no meio do caminho sem saber para onde ir.
O único mastodonte mamute, que conseguiu se salvar do Amazonas baby, corre desembestado em direção à arvore. Com o seu peso monumental começa a pisotear enlouquecidamente o chão quente, triturando os frutos. Tudo virá um lama só! Cansado e exausto, caminha para uma caverna, quando é atingido por um outro maldito raio.
Os humanos e os macacos, somente eles, correm e o comem vorazmente, a carne ainda trêmula e mal passada do mastodonte mamute. Chupam os ossos, dando início assim ao plágio e ao churrasco rodízio.
O casal desnorteado, achando que não sobreviveria, cai exaustos e resignado no chão de lama.
O homem pede à mulher, como último gesto de amor, um beijo.
Ela com lágrimas nos olhos, arremeda um ruído que ele define como um sim. A chuva para. O tempo para.
Os dois se aproximam, unem seus lábios; primeiro lentamente e depois como se um quisessem engolir o outro.
Rolam no chão, rindo e colocando a lama na boca desesperadamente. Um chupando os dedos do outro. Êxtase!!!
A cena é bastante excitante. Nasce, assim, o filme pornô e a sobremesa!
Os humanos nas cavernas tiram os filhos da frente, iniciando assim o "proibido para menores".
A chuva cessa. O casal se recompõe, um ajeitando o outro e lentamente caminham em direção ao sol que começa a ganhar a luta contra as pesadas nuvens. Deitam na relva ainda úmida e com o olhar, sem precisar de palavras, dizem: "Ufa! O dia hoje rendeu!"
E isto tudo porque ainda não tinham descoberto o açúcar e o sal.

Aí já é outra história.....................um dia eu conto pra vocês.

Carpe Diem!

Dino Rosa - Cozinheiro

  

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A simpática e gentil Dona Esmênia

Estive bastante adoentado estes dias. Praticamente morando no banheiro. Montei uma biblioteca lá.
Motivo: Rabada e carne de sol com aipim!
Todos os anos temos as "Rodadas de botecos", "Festival de Comidinhas de Boteco","Concurso do Melhor Petisco", e  outras deliciosas armadilhas às quais vamos alegres e sorridentes.
E ainda as irresistíveis propagandas:
"Não deixe de provar nossa deliciosa Rabada com Agrião!"
 "Promoção: Peça uma porção de pastel de tutu e ganhe seis torresmos".
"A legítima Costelinha ao Barbecue você só encontra aqui!"
Fico com a impressão que se eu não provar, estarei  irremediávelmente perdendo alguma coisa muito importante em minha vida.  Sou muito sugestionável.
Como não se deixar sucumbir, meu Deus!!!!!
E eu fui fundo.(?!)
Sexta feira, fim de semana, animação,bares e restaurantes lotados.Tudo sugerindo uma ótima noite,em boa  companhia e comidinhas honestas e saborosas. E foi. Estava tudo uma delícia. Rabada quentinha, servida em panela de barro com agrião e batatas. Torradinhas para acompanhar. Dica: Coloque a torrada no caldinho da rabada. Ela vai sugar o molho, ficar molhadinha. É gordura pura. Você vai adorar! A balança também.
A carne de sol com aipim estava divina. Aipim sequinho, carne de sol dessalgada no ponto certo, a gordurinha na medida exata., bastante cebola,e a indefectível folha de alface com duas rodelas de tomate colocadas graciosamente.
Molho de pimenta no ponto certo de maturação. Sim, pimenta também tem suas manias.
O garçon com uma gentiliza beirando a chatice. Álias, chato!
O que me incomoda em alguns garçons é que eles não veêm em nosso rosto que já está bom o tratamento, que não precisa mais ser gentil, que já foi o suficiente.  E continuam até o rompimento da relação, sem direito a questionamentos. Talvez o culpado tenha sido ele!
Noite agradável, lua cheia no céu. Juro de pés juntos que só tomei uma cerveja. E ela estava perfeita.
Nada me preparou para o dia seguinte. Ninguém me alertou. Não obtive ajuda. 
Nada contra os festivais. Nada contra as comidinhas. Nada contra a tradição.
Nada contra dona Zizinha do Pastel ou o Seu Júlio da manjubinha frita.
Tudo contra o desleixo das cozinhas. Tudo contra a falta de higiene. Tudo contra o reaproveitamento do óleo de fritura por meses. Tudo a favor de nosso intestino!!!
Depois de consultar o médico e  de quase morrer afogado de tanto tomar chás purgativos elaborados por dona Marina, que é a melhor da região, cheguei a conclusão final e dou o vericdito: A culpada foi dona Esmênia!
Dona Esmênia é a cozinheira responsável pelo boteco que fui comer estas delícias. Pessoa alegre,calma e gentil. Depois de comer, fui até a cozinha parabenizá-la pela agradável noite em que ela foi a estrela principal. Sempre faço isto quando gosto da comida, e aconselho a todos a fazer o mesmo, são eles os verdadeiros responsáveis.
Eu devia ter desconfiado pela roupa que ela estava usando. Muito suja! Pensei: Bobagem! A comida é gostosa.
Dei uma olhadela ao redor, desorganização e sujeira. Pensei novamente: Besteira! A comida é ótima, e além disto foi tudo muito bem cozido e frito.
Olhei com mais calma para os garçons e notei que eram desastrados e para meu horror, suavam demais. Tive que olhar pro dono que estava no caixa. Ele estava com o cigarro entre os lábios e conversava animadamente com um amigo, bem próximo de onde saíam os pratos da cozinha. Começei a tremer descontroladamente. Com a mente mais clara e estômago satisfeito, pensei: "Estou f.......!!"
Não deu outra! E cá estou eu escrevendo diretamente, deste que é há três dias, o meu cômodo preferido. Penso em me mudar de vez.  Fiz um alvo com o desenho de dona Esmênia e jogo dados envenenados em sua direção. Até agora só acertei três.  Parei de medir o papel quando ele chegou a 56.000 mts. Acho que fiz o correto.
Dona Esmênia com sua simpatia e com sua graciosidade no olhar me ensinou uma lição:  Enxergar melhor o que está ao meu alcançe, sem deslumbramentos, sem me deixar levar pelo merchandising e pela foto bonita.
Depois de todos os remédios disponíveis no mercado estou me sentindo melhor, mas ainda estou bolando o plano perfeito de assassinar a simpática e agradável Dona Esmênia. Tudo passa pela minha mente, deste o atropelamento simples e curto, quanto a tortura medieval. A tendência é para o sadismo mais cruel.
Talvez não faça nada disto, somente volte lá e sem avisar coloco fogo no estabelecimento.
 Vocês verão no Jornal Nacional: "Homem alucinado invade bar, reúne os donos,as cozinheiras ,os garçons e os obriga a comer carne estragada. Logo após, com risos nervosos, ateia fogo e foge correndo!!!"
Irei para Pasárgada, antes passarei  no El Bulli . Lá certamente serei mais feliz.

Pensei melhor sobre o que vou fazer: Vou lá correndo prestar uma consultoria grátis. Dona Esmênia é uma santa. Só precisa cortar as unhas, prender o cabelo, manter a cozinha organizada e limpa, higienizar os alimentos,................Nossa! Vou ter trabalho,é muita coisa!
 Ela merece e eu também.
 Nos veremos no céu!

PS: No próximo post ensino a fazer uma boa rabada e por via das dúvidas, um ótimo chá de hortelã. Agora estou muito ocupado,.........Abraços.

Dino Rosa

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Lex

Milad Alexandre Mack Atala, ou Alex Atala, ou ainda Lex(somente para os íntimos).
Este nome além da ótima sonoridade, pertence ao meu cozinheiro brasileiro favorito. Acho que ele tem todos os atributos que um chef de cozinha deve ter. Bom humor, refinamento, inteligência, sensibilidade, história e fogo no olhar. Possui dois restaurantes em São Paulo, o D.O.M.  que significa "Deus, o melhor e o maior", expressão que encontramos abreviada em lápides e em igrejas antigas. E o  mais recente, chamado  Dalva e Dito, que vem a ser seus avós. Seu restaurante é um dos  50 melhores do mundo atualmente.
Gostaria de conhecê-lo um dia.  Se não aconteçer, fico com as revistas e os livros.
Sempre disse em sala de aula que cozinha tem de ter história, fundamentos, porquês e respostas.
Bolei uma aula que funcionava da seguinte forma: Lembrar-se da primeira memória gustativa que teve na vida ,e reproduzir com o máximo de realidade do instante primeiro. Recordei que minha primeira memória, era eu ao lado da pia, roubando nacos de bife de boi  temperado, antes de ir à panela.
Não era de graça, a palmada vinha logo atrás.
Foi uma confusão de histórias, todos de repente lembrando das suas e querendo contar.
É isto. Sem história, não vamos a lugar algum.
Milad tem.
A receita do bife é assim:
  • Ingredientes: 
  • Contra filé com uma finíssima capa de gordura, cortado na medida de um dedo. Se for muito fino, perde  textura, sabor, e você nunca saberá o que está perdendo;
  • Alho até perder de vista, cortado em lâminas ou socado sem sal em qualquer lugar que o deixe bastante machucado. Cozinhar é cruel!
  • Pimenta do reino branca socada toscamente em pano de prato, ou num moedor. Seu paladar ditará a quantidade. Pode ser sem pimenta, somente acho que a humanidade não teria chegado aonde chegou sem a pimenta. Eu começei a apreciar depois dos 20 anos. Nunca é tarde!  
  •   Sal grosso. Cuidado!!!Você sabe porquê.
  • 01 fio de óleo de boa qualidade(Não sabe o que é fio de óleo??Procure no  Deus Google).  A carne bovina contém gordura o bastante em suas fibras. Mais do que isto, é um mal vício. Como o cigarro. Se este for o seu caso, procure o VEFA( Viciados Em Frituras Anônimos) Você precisa de ajuda.  
  • Mão boa, pensamento idem, frigideira grossa e fogo alto.

  • Preparo:
  • Corte os filés  como falei anteriormente. Junte os alhos machucados e  a pimenta totalmente destroçada, como se fossem atropeladas em alta velocidade por um caminhão cheio de toras amazônicas. Deixe eles se conhecerem de perto, por uns 20 minutos. Criará intimidade o suficiente.
  • Depois que  eles contarem todos os seus segredos íntimos, jogue-os repentinamente na frigideira com o óleo já bastante aquecido. Seraõ pegos de surpresa.Tenha força, a cena é forte. Matarás vários seres para surgir você. É a lei da selva em cena.
  • Não mexa nos corpos retorcidos. Se fizer isto, eles chorarão, e chorando derramarão lágrimas que fará seu suculento bife se transformar numa sopa. Não haverá cura.
  • Coloque poucos. Não precisamos de muitas testemunhas nesta hora.
  • Jogue sal grosso por cima(pouco). Isso mesmo, na frigideira!
  • Deixe dar uma queimadinha de uma lado. Quando virar o bife, sua coloração deve lembrar um chocolate belga derretido, um pouco mais claro. Já sei! Bronzeado como ficamo nas praias do nordeste, no meio do verão, antes da desidratação e do internamento.
  • Faça o mesmo do outro lado.
  • Ele ficará tostadinho por fora e suculento por dentro. O fogo  e você determinará o quanto.
  • Para acompanhar escolha sempre ótimas companhias. 
  • Ao cortar ele deve estar rosado por dentro. Ainda com um pouco de vida. Acabe com este sofrimento com um ávida mordida.
  • Dentro em breve tudo estará terminado. Restando apenas beijar a companhia,lavar a louça e ir ao cinema. Pode mudar a ordem, não o sabor.   
Quando começei a divulgar para meus amigos e colegas de trabalho que estava escrevendo um blog, aconteceu uma coisa muito engraçada. Todos começaram a me parabenizar e a me desejar boa sorte. Uma colega de trabalho chegou perto de mim e muito séria disse:
"Dino, te desejo muito boa sorte nessa sua nova jornada!" Logo depois, um abraço apertado e tapinha nas costas. Eu morri de rir. Ela não gostou, e eu não expliquei. O que fez com que ela ficasse mais nervosa ainda.  Não estava entendendo direito. Parecia que eu tinha conquistado alguma coisa nova, trocado de emprego ou lançado um livro.
Acho que a grande maioria das pessoas ainda não sabe o que é blogosfera. Não sabem ainda o que é um blog e todo o novo linguajar e maneirismo que surgiu. Eu também não sabia. Futuquei um pouco o computador e agora faço parte deste mundo. Cyber vida!
 Estou escrevendo cheio de dúvidas: Alguém lê? Posso falar tudo? Pra quem vai interessar o que escrevo? Somente os poucos amigos? Virarei escravo deste mundo? Saberei a hora de parar e ir ver o "outro mundo"? Muitas perguntas sem respostas.........por enquanto.
Leitores, um grande abraço. Não esqueci  do fois gras do mar que o Lex faz. Ele é feito com o fígado do peixe sapo e é servido com tapenade e pétalas de rosas marinadas. Achei super poético.
O fígado é encontrado somente em Singapura. Se alguém estiver com viajem marcada para lá me avise, gostaria de encomendar alguns quilos.
Lex, até breve.

domingo, 12 de setembro de 2010

Algumas coisas que Noah precisa saber

Querido Noah:
Está fazendo um lindo dia de domingo ensolarado. Achei que seria uma ótima idéia ir dar um mergulho, depois de tanto tempo sem ir, mesmo morando tão próximo ao mar.
Quase dentro. Sua mãe pode mostrar no mapa.
Fiquei pensando em você, e acho que tenho que te contar algumas coisas muito importantes. Vim correndo, não tanto quanto gostaria, estou ficando um pouco enferrujado. No caminho, vi pelos reflexos dos carros, que estou comendo muito e meio desleixado. Não faça como eu!
Sei que você acabou de chegar, mas o que tenho para falar não pode esperar.
Sei o que o peito de sua mãe é muito gostoso. Saboreie bastante. Contém muitas informações e sabores que carregará pra vida toda. Talvez sua mãe, futuramente tente tirar este prazer. Resista ao máximo. Se necessário, morda.
 Mas, meu querido, não haverá jeito. Começe a entender, algumas coisas que existem por aqui são inevitáveis.
Logo virá o tempo das sopinhas. Se forem caseiras. Ótimo. Se forem industrializadas, faça greve.
Existe uma empresa global chamada Nestlé. Eles fazem vários sabores destas sopinhas.
Cuidado! Nenhuma presta!
Em contrapartida eles inventaram um danado de um leite cozido com açucar, que é minha perdiçao. Eles cozinham bastante e depois  colocam numa latinha linda, com uma foto de um garota, também linda.
Faça um furinho na lata e vá sugando aos poucos. Tem de ser escondido. Sua mãe não vai gostar nada disso. Só não  faça como eu. Como uma lata todos os domingos em frente a tv. Se quizer cozinhe a lata inteira. Vou te dar a receita, é fácil:
Ingredientes:
  •        01 lata do tal leite(Se não alcançar a prateleira, peça ajuda)
  •        Água até cobrir a lata
  •        Panela e fogo
Preparo:
  • Mais ou menos 40 minutos,  até ela ficar marronzinha.( Não mexa com fogo ainda, peça ajuda no começo, depois dos 18 você mesmo faz)
  • Deixe esfriar, abra e com uma colher pequena, vá comendo aos poucos. Ou muito rápido. Com queijo também é uma delícia.
Pelo amor de Deus, não fale para sua mãe que te ensinei. Ela não me perdoará.
Vou te dar umas dicas de locais legais para se comer:
Pra começar, a casa de minha mãe. Ela cozinha muito bem. Se quizer, pode pedir a sua mãe para irmos lá fazermos a festa. Tem de ser no dia em que ela estiver de bom humor, senão não rola.
Sua avó materna acho que não cozinha muito bem. Mas, ela pinta divinamente. Vamos perdoá-la. Quando ela fizer alguma comida para você, diga que nunca comeu nada igual. Ela vai adorar.
Más notícias: sua tia também não cozinha nada! Pelo menos, é o comentário. Faça como fará com sua avó. Elogie bastante, ela também vai adorar , ela tem tantas outras qualidades que esta falha passará despercebida. Se não conseguir engolir, disfarçe e vá jogando fora aos poucos, se houver um cachorro próximo melhor ainda, as provas do crime nunca serão encontradas.
Outra dica: finja que quer mais e vá você mesmo colocar, chegando lá jogue fora disfarçadamente o que não quer embaixo de algum tapete. Vai começar a dar um cheirinho ruim depois, mas você já estará fora da cena do crime.Pode inventar também que  acabou de inaugurar um restaurante que é o must da estação. Sua tia sairá correndo para ir. Ela adora ser "in". E é. Vocé saberá.
Qualquer gororoba que sua mãe fizer, será inesquecível! Pode acreditar.
Tem outros locais muito bons para se comer bem. Escolha sempre o que tem a cozinha mais alegre e limpa.
No Pará existe uma cabaninha, perdida no meio do nada que serve uma comida maravilhosa. Você só tem que ir para lá e pegar um barco para cruzar o rio Araguaia. Do outro lado do rio, alugue uma kombi que provavelmente estará caindo aos pedaços, parecendo  resultado de um cruzamento de um liquidificador com um microondas.Em duas horas você chega, mais magro e com profundas olheiras . Você vai  ficar um pouco cansado e faminto. Vá . Confie, o sabor é inigualável. Comida boa tem história,informações e sabor.
Tem restaurantes ótimos em São Paulo. Acho que ficará mais perto para você. Lembre-se, nem sempre os mais caros são os mais saborosos.
Quando for a Europa, vá ao El Bulli, fica na costa da Espanha, tem um cozinheiro lá que está fazendo o maior sucesso agora. Quando você for também. Talento não se perde. Peça o menu degustação. Faça reserva com um ano de antecedência , será ainda muito procurado na sua época, chegue cedo e passe o dia todo, até achar que foi o suficiente para ser inesquecível. Ele serve umas coisas esquisitas, prove, senão nunca saberá como é. Experimente sempre. Eu nunca fui. Minha intuição e o zum zum zum em torno dele dizem que vale a pena.
Tem muitos outros lugares, uns que posso te indicar, e outros que você mesmo vai descobrir.
Quando for bom, espalhe pra todo mundo.Quando não for, esqueça. Não perca tempo com fofocas.
Não seja vegan, é muito chato radicalizar.
Não seja muito carnívoro. As vacas também são gente.
Não resista a um rodízio de carne. Cuidado! Eles gostam de enganar a gente com um monte de entradas, vá direto ao assunto. Vá faminto, será melhor.
Sua mãe talvez não deixe você ir todos os dias ao Mc Donald's. Concordo. Todo dia não.
Eu vou confessar uma coisa pra você, não conte a ninguém. Se todo mês eu não comer o sanduíche de cheddar que eles fazem, sinto que falta alguma coisa em mim. O sanduíche é uma droga. Parece papelão com temperos. Saio de lá com raiva e prometendo que não vou mais sucumbir ao Tio Sam. No próximo mês estou lá, alegre e resignado.
 Vá escondido. Não comente com ninguém, somente a amigos de longa data, que é o nosso caso.
Não conheço seu pai, mas confie nele. Ele sempre te protejerá. Vamos torcer para ele cozinhar bem.
Se não for, faça o combinado: finja.
Se não quizer nada disto, sem problemas, somente procure ser feliz ao máximo.
Estava quase esquecendo do chocolate!
Vou resumir: Quando tiver idade suficiente para fazer sexo com quem você ama, e logo depois  comer uma barra de chocolate, verá que valeu a pena ter vindo.

Grande abraço,

Dino Rosa - Cozinheiro nas horas vagas.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Esqueci a linguiça!! Lembrei do Fois Gras!!

Caro leitor tijucano:
Depois de nossa intensa troca de e-mails ontem, e depois de pensar bastante sobre suas observações acerca de eu estar sendo muito pessoal, decidi continuar assim. Sei que corro riscos, mas acho que se  for de outra maneira, serei outro. Prefiro utilizar este espaço para ser realmente um diário, onde eu possa expôr minhas humildes opiniões sobre cozinha, minha visão particular sobre mim mesmo e este  mundo que me cerca.
Todos os erros gramaticais seguirão em frente, e os meus também.
Prefiro correr riscos.Perdão.
O título da postagem de hoje, se refere ao meu imperdoável esquecimento de não dizer na receita anterior  como  utilizar a linguiça no tutu. A linguiça caseira é bastante apimentada e frita à parte, só depois ela é colocada junto ao molho de tomate, quando finalmente é posta sobre o tutu. Esqueci também de dizer que acompanha este tutu uma couve fresquinha, também doada pela horta do vizinho, cortada finamente e "passada" numa frigideira quente com alho,sal e um fio de azeite.
Quando era menor........ Ia colocar criança,  nunca deixei de ser, mesmo às vezes ela estando aprisionada e se perguntado: "O que foi que aconteceu?" Li isto em algum lugar.
Enfim, quando era menor, meu pai tinha o antigo e trabalhoso costume de criar e matar porcos. Sempre no fim de ano.Tradição familiar. Os pais deles também faziam e como trazemos no sangue o passado, ele mantinha este, que aos olhos mais distantes e frios pode parecer uma cruel perca de tempo.
Era sempre uma festa. Acordar cedo,  ferver bastante água para retirar a pele,dar uma paulada e logo em seguida, esfaqueá-lo abaixo da virilha, de onde jorrava uma cachoeira de sangue. Neste momento eu saía de perto. Era demais para mim. Incoerente, porque logo depois voltava e mesmo sem  ele  ter totalmente passado desta para melhor(?), estava destroçando o bicho. Cruel?Nada! Sentia-me integrado totalmente a lei da natureza.
Sobreviver  sem um carrinho de compras!
....Minha mãe com uma vasilha cheia de farinha ou vinagre, onde o sangue ficava. Depois fazia  uma farofa com parte do sangue, o coração, pulmão,rins,baço, tudo bem temperado. Encher as linguiças: uma parte com  a farofa,que depois era frita, outra com o sangue para o chouriço e outra parte, a linguiça.
Este teatro todo durava o dia inteiro, era, acredite, uma grande festa.
Exaustos, ainda tinhamos que picar pedaços de carne, tamanho mínimo, cortes máximos. ........Cansaço e prazer.  
É aí que reside um dos segredos de uma boa linguiça: Que tipo de carne? Qual tempero? Qual o  tempo de maturação? Em que local?Frio ou quente? Tudo isto, e mais um pouco é que determina o sabor final dela. Este "um pouco mais", é o invisível, é o tempo suspenso no ar, é o universo infinito, é o que invalida qualquer faculdade de gastronomia do mundo.É o grande mistério!
É o que faz eu poder dar uma receita igual para 100 pessoas, e uma delas ser melhor do que todas as outras.
Voltando a linguiça frita,assada ou cozida:
Sugiro comprar na feira, onde o selo de qualidade está no rosto do vendedor. Isto é, se houver feira perto de sua casa, senão, existem lojas especiais que sabem que a qualidade é o mais importante em seu negócio.
O fois gras do título da crônica não é o fois gras comum. É feito com o fígado de um peixe chamado peixe-sapo  Muito encontrado em Singapura. E a receita é executada pelo Alex Atála(Lex para os íntimos). Chama-se: Fois gras do mar.............Sinto meus queridos, só no próximo post...... 

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Tudo sobre minha mãe

Pronto! Estou dominado!
Não consigo pensar em outra coisa: "Meu primeiro blog!"
Passaram-se 02 horas e até agora ninguém o acessou. Tive que obrigatóriamente postar um comentário com o singelo nome Alter Ego. Será que meus milhões de leitores irão perceber?
Lembro de um amigo, que quando está fazendo um novo trabalho fica completamente dominado por ele. Olhares vazios, pensamento longe, surdez repentina, não fala de outra coisa. Estou igual. Será inveja? Será que devo voltar para o divã?Perguntas,perguntas, sempre elas.
Um amigo de trabalho com quem comentei sobre o meu blog,disse:
 -Hi! Dino, blog já era, o negócio é twitter!
E agora? Blog ou twitter? Eis a questão! Logo eu que não faço a mínima idéia do que seja twitter, na verdade, vaga idéia.
 Já me sinto cansado! Não sei se este blog resistirá por muito tempo.
Vou parar de palhaçada e continuar neste  agradável conforto de escrever aqui,.imaginando que a vida de quem está  lendo mudará completamente.
Pode isto?
Não posso perder o foco: Comida,talento,diversão,suor e arte !
Trabalho muito próximo da casa de minha mãe. Almoço lá durante a semana. E é sempre uma surpresa gastronômica.É sempre uma lição de simplicidade.
A incrível capacidade que ela tem de cozinhar sempre me surpreende.
 Simples,saborosa e inesquecível. 
Tudo bem. Exagero!
Não é todos os dias. Quase todos.
O humor dela tempera os ingredientes. Bom humor!Boa comida!Mau humor!Comida mais ou menos.
No caso dela, sempre para mais. Ela tem o talento, lapidado através dos anos, de transformar um simples tutu de feijão num acontecimento.
Hoje o humor dela estava ótimo! .
Cheguei hoje e falei: "Mãe, estou escrevendo um blog!
Exliquei o que era, e depois falei que escreveria sobre ela. Nervosamente disse:"Não quero!"
Mentira! Adorou, tenho certeza. Ainda mais depois que falei brincando que milhares e milhares de pessoas iriam ler. Vi um leve sorriso no canto dos lábios.
 Sou filho dela.
 Ainda bem que este talento é para poucos. 
Receita não se pede, então vou dar a do tutu:
Ingredientes:
  • feijão velho há varios dias(aquele em que vamos acrescentando água indefinidamente)
  • farinha de mandioca da roça(de preferência de Afonso Cláudio-ES, terra natal dela)
  • alho
  • sal
  • ovos caipiras cozidos(colocados pelas aquelas malditas e cagonas galinhas criadas soltas no quintal) 
  • linguiça temperada do interior(cidade não se fabrica linguiça)
  • urucum(colorau é muito moderno)
  • tomate doado da horta do vizinho(cheio de lagartas, mas é só sacrificá-las)
  • panela velha e fogo
Modo de preparo:
  • Bater o feijão e a farinha no liquidificador,Reservar
  • Dourar o alho, colocar os tomates bem picado, urucum, sal.Reduza e reserve.
  • Numa panela coloque o tutu para ferver, mexendo com muita pressa, porque está passando no jornal o assassino da menina que passeava no jardim de infância. Finalmente descobriram o culpado!
Colocar em uma travessa o tutu. Por cima,o molho, decore com os ovos cozidos.


Está pronto para  comer e ainda dar um pouco para os vizinhos, que estranhamente neste horário vão religiosamente visitá-la.


Viu como é fácil cozinhar?


Grande abraço.


         

Minha primeira vez

Sinto-me virgem.
E prestes a conhecer coisas novas. O que me agrada muito. Não gosto de estática.
Criei este blog para falar sobre comida,receitas,,amizade,trabalho,diversão,arte, vida e sexo. Sim, sexo. Comida e sexo é uma ótima combinação.
 O engraçado, é que enquanto escrevo, imagino milhões de leitores lendo. 
 O ego é grande, tentarei baixá-lo em cada postagem. 
Acho  também que estou influenciado por um filme que vi recentemente. Esqueci o nome...., com a Meryl Strep, se alguém souber, me fale.
 Idade!!! 
É bem interessante. A personagem é uma dona de casa, típicamente americana, não tão típica assim. Gosta  de cozinhar, e quando viaja com o marido para Paris, descobre os sabores e prazeres de um bom prato.
Pra pessoas que como eu, é de cozinha, sabe o quanto de prazer há nesta descoberta.
Voltando ao filme. Ela resolve escrever um livro para as donas de casa americanas, e é um grande sucesso.
Na outra parte do filme, há uma jovem que, influenciada por esta senhora, resolve refazer todos os pratos do livro, e ao mesmo tempo escreve um blog sobre esta experiência. E isto muda a vida dela. Milhões de pessoas acessam, ela torna-se famosa e rica. É ótimo.
 Vale a pena assitir.
Será que é isto que quero? Fama e dinheiro.
Não, não é  isto. Quero somente brincar, falar,questionar, e principalmente, me divertir. 
Acho que menti! Um pouco de dinheiro não faz mal a ninguém.
Queimei a primeira rosca. Agora é mole.

Abraços